As pistas aparecem na fala, na escrita, nos gestos, na às vezes imperceptível teia envolvendo escrita e vida. Uma vez desveladas, fica a dúvida: serão mesmo signos de algo que descortinam ou apenas efeito da sugestão, construção dada a posteriori? Como algo em princípio absolutamente casual e inocente pode ser tomado como parte de um todo que escapa? As pistas só o são se tomadas como tais. Seriam qualquer coisa insignificante de outro modo ― o que o arco da percepção pode alcançar? A suprema libertação é poder escrever sobre coisas tão sutis e vagas como a poeira da tarde, que escapa mal se tenta tocá-la com palavras.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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