Acordar no meio do sobressalto da noite. Erguer-se em susto pelo inesperado do sono interrompido. Onde a calma para dormir de novo? Há que se buscá-la, encontrá-la, extraí-la da noite se for preciso. Então abro a varanda e sinto soprar uma brisa leve, suave e silenciosa, tão diferente do calor que fazia quando cheguei por volta das dez em casa. Me recosto na brisa como se fosse no próprio travesseiro, mas não é suficiente, então tomo na madrugada uma ducha fria que traz frescor imenso ao corpo, essa substância rebelde. Volto à varanda, desligo o ar condicionado e deixo aquele frescor da madrugada adentrar a casa. Mas é preciso voltar a dormir. Penso em escrever sobre a brisa como uma forma de reaver o sono. O que vale mais? A brisa em sua irredutibilidade ou sua materialização nas palavras? Resolvo dormir e deixar a escrita para depois, ficando com a pureza daquele momento silencioso da madrugada, em que distingui o porteiro do edifício, em quase silêncio e perfeita solidão, molhando as plantas do jardim. Era tarde, apaguei a luz da varanda e fui dormir, ouvindo ao fundo a água que caía sobre meu sono.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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