Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 5 de maio de 2012

Alexei Bueno: testamento poético

Quem versos com eu fiz
Fez, pode sossegado
Dormir, sentindo o intenso
Prazer de se ser vivo.

Quem tal como eu cantou
O que não passa no homem,
Medo não tem que o tempo,
Passando, o não mais passe.

Pois quando o divino ar
Não mais, como foi sempre,
Entrar pelo meu peito,
Aos homens falarei

Ainda, qual o espectro
Dos mortos, e assim ouso
Calmo dormir, enquanto
Minhas palavras velam.

BUENO, Alexei. Poemas gregos. Poesia reunida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003, p.175-176.

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