Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 5 de maio de 2012

perseverança tranquila

1953, Janeiro, 18 ― Paciência! Paciência! O sininho interior badalando esta ordem. Eu sei que sua observância exige mais coragem do que a da revolta, ou a simples impaciência. E sabendo isso, cultivo a ilusão de que se torna mais fácil ser paciente: dou a mim mesmo um diploma de virtude latente. Mas será válido esse diploma? Gostaria tanto de exercê-lo na acepção do Pequeno Dicionário: “perseverança tranquila”. Pois sim.

Carlos DRUMMOND de Andrade. O observador no escritório. Rio de Janeiro: Record, 1985, p.103.

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