MARINHA
IRREVERSÍVEL
Agora te persigo, peixe morto.
Não como esfinge oblíqua
mas como prolongamento de meu corpo.
As
palavras não valem,
o tempo
não conta.
Debruço-me
sobre os continentes, o mais árido,
e cavo a
medida exata de minha angústia.
Sobre as
retinas cai a longa noite.
O sono é
numeroso e horizontal.
Como o
sono permanece, tento romper-te
em litúrgicas
escamas, como se buscasse
a só
reintegração na superfície.
A cidade pulverizada te reflete,
a ti que fazes vigília em meus olhos.
Não há saída, as portas se recusam.
Mas a vida lateja e propõe
outro costume.
Sem mais escolha e sem
deixar resíduo de meu ser,
peixe,
mergulho para todo o sempre
em teu condado submerso.
CACASO. Lero-lero. São Paulo: Cosac Naify, 2012, p.203.
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