Há qualquer coisa de endurecimento ―
defesa antecipada ― em mim que vem atravancando minha usual generosidade.
Qualquer passo em direção ao outro, quando esse outro não parece representar terreno seguro, comporta um elemento de
cálculo que torna tudo cansativo. Aí eu acabo preferindo o que denominaria de
descanso subjetivo. Uma forma de preguiça existencial? Como, depois de tanto
tempo cultivando música própria, fazer dueto com a música alheia? Por sorte há a poesia, companheira
inestimável de viagem e do que é intervalo. E não vivo mais sem os rabiscos que
faço aqui ― que me descansam de mim mesma ― e sem as aulas de natação.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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