Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 17 de agosto de 2010

caderno de caligrafia

Uma coisa que me atrai nos blogs são aquelas palavrinhas que as pessoas escolhem para falar de si, de seus projetos de escrita. No meu caso, demorei quase um ano para colocar por aqui um textinho que falasse de mim enquanto escrita/enunciação. Antes, essa necessidade simplesmente não havia se colocado, ou não assomava como tal, e então era melhor não falar nada. Dentro deste espírito, me chamou a atenção tanto o novo nome - Caderno de Caligrafia - quanto o texto que meu amigo Luigi Lopes escolheu para caracterizar seu blog, talvez porque nenhum caderno de caligrafia (no interior onde nasci falavam "caderno de pauta dupla") tenha dado jeito na minha letra sofrível, embora legível, para o mal dos pecados dos meus alunos. Tomo a liberdade de reproduzir:

DAS BELAS LETRAS E DAS FEIAS TAMBÉM

Quando eu era pequeno, usava um Caderno de Caligrafia. Ao contrário do que se pode imaginar, nenhum caderno de caligrafia é o registro de uma bela letra. Apenas aqueles que sentem o peso de desenhar letras, precisam usar um caderno assim. Ainda que por meio dele se queira domesticar a letra de tal modo que ela se torne bela, todo caderno de caligrafia consiste no resíduo do torto, do feio e do selvagem. Este blog é um pouco disso, uma oportunidade de esboçar, inscrever os vestígios ou resíduos daquilo que de outra forma não seria escrito, ensaios de outras palavras que se preparam para vir à luz, espaço para o efêmero. 

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