Depois de uma experiência indescritível proporcionada pelo contato com essa cidade maravilhosa chamada Rio de Janeiro, percebi que era inevitável dar um tratamento diferenciado à música que coloquei no post anterior, o qual aliás teve seu destino selado por esta experiência - estava banal, comum demais, e a música ficou deslocada. Pois bem, me redimo e dou à canção o seu devido lugar, o lugar da poesia, do mistério, da experiência que produz comoção - "o certo é incerto, / o incerto é uma estrada reta / de vez em quando acerto / depois tropeço no meio da linha" [poema de Jorge Salomão musicado por Nico Rezende].
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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