Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 17 de agosto de 2010

Marcelo Diniz

O Primeiro Leitor

Há aquele que atira
no escuro, ou se atira
no branco, ou melhor,
o que nada sabe e nada
no branco e mergulha
no escuro, leitura
em braile no absoluto  vozes
apenas em seus ouvidos,
mil braças e nenhuma
notícia de sereias  atrás
do que, rasgo, nada
além de luz, movimento
sem promessa que não
seja fuga acesa e risco
de afogar-se na indistinta
noite de todas as vésperas.

DINIZ, Marcelo. Cosmologia. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2004, p. 51.

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