“Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume.” (William Shakespeare). Não é gratuito o título do romance mais famoso de Umberto Eco, O nome da rosa, que rendeu uma adaptação cinematográfica razoável, em termos de trama, passando todavia ao largo da importante discussão semiótica que a obra levanta. E embora eu tenha lido o livro duas vezes, lamento que sua parte mais rica tenha ficado para trás, junto com a leitura. Lembro-me, todavia, de um pós-escrito que autor publicou, referindo Borges como uma de suas fontes. De fato, e no filme isso fica bem marcado, há um cego tirânico, com olhos azuis incrivelmente claros, que domina a biblioteca, o acesso às obras - quer dizer, decide os caminhos que o conhecimento poderá tomar. Não sei mais onde li isso, mas cego em biblioteca só pode dar Borges (acho que foi o próprio Umberto Eco que falou). O que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume?
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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