Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 15 de agosto de 2010

o nome da rosa

“Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume.” (William Shakespeare). Não é gratuito o título do romance mais famoso de Umberto Eco, O nome da rosa, que rendeu uma adaptação cinematográfica razoável, em termos de trama, passando todavia ao largo da importante discussão semiótica que a obra levanta. E embora eu tenha lido o livro duas vezes, lamento que sua parte mais rica tenha ficado para trás, junto com a leitura. Lembro-me, todavia, de um pós-escrito que autor publicou, referindo Borges como uma de suas fontes. De fato, e no filme isso fica bem marcado, há um cego tirânico, com olhos azuis incrivelmente claros, que domina a biblioteca, o acesso às obras - quer dizer, decide os caminhos que o conhecimento poderá tomar. Não sei mais onde li isso, mas cego em biblioteca só pode dar Borges (acho que foi o próprio Umberto Eco que falou). O que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume? 

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