NUM POEMA, CURTO
Sou igual a todos
e a tudo sou diverso de mim.
Não sou igual mesmo assim.
Me perdi antes do filme ter fim.
O passado bate à porta.
O futuro também.
Sólido no momento presente,
Não estou para ninguém.
Real é o que existe.
Minha alma é uma lâmina cega
embutida no fio da navalha.
Ás de paus que se perde no que faz
e no fazer do sim que não se faz-se,
Em que máscara perdi minha face?
Minha pequena, tenha calma:
O corpo é apenas
o caminho para a alma.
O poeta semeia o impossível
e o seu coração.
O impossível cresce. Ele, não.
Se amas o que tu amas,
Não o tragas sempre junto assim.
Perde-o, de vez em quando,
E de novo o acharás ̶ junto a ti.
Meu amor é meu remédio:
Cura tudo,
Menos o tédio.
Eis a arte da festa:
Chegar na hora exata.
Sair na hora certa.
Estes olhos não são meus:
Eu não era tão seu.
Tiraram, devagar, meus olhos
e derramaram petróleo no lugar.
A visão do negror enxerga mais fundo
a cegueira que alvorece o mundo.
Essas flores parecem mortas, senhora,
Mas não estão não,
A beleza é maior do que a vida
E as faz renascer no coração.
[A parte que nos toca: literatura brasileira feita no Espírito Santo.Org. Miguel Marvilla e Reinaldo Santos Neves. Vitória: Florecultura, 2000, p.183-184.]
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