De tudo que sonhei esta noite, a lembrança mais forte é o texto do sonho, a escrita ― pobre tradução verbal ― do sonho. Sei que era violência o que sonhei, e que isso virava um texto (um post) relativamente bem sequenciado de imagens a que pertencia a própria escrita do texto. A escrita aplacando a violência, dando um contorno à vida metamorfoseada em sonho, ou à vida que explode no sonho. Explosão cujo contorno pela escrita impede, até certo ponto, que os estilhaços atinjam quem está apenas sonhando, entregue ao sono e à sensação de que o texto que aparece no sonho já está escrito.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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