Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 20 de novembro de 2010

à noite

De tudo que sonhei esta noite, a lembrança mais forte é o texto do sonho, a escrita ― pobre tradução verbal ― do sonho. Sei que era violência o que sonhei, e que isso virava um texto (um post) relativamente bem sequenciado de imagens a que pertencia a própria escrita do texto. A escrita aplacando a violência, dando um contorno à vida metamorfoseada em sonho, ou à vida que explode no sonho. Explosão cujo contorno pela escrita impede, até certo ponto, que os estilhaços atinjam quem está apenas sonhando, entregue ao sono e à sensação de que o texto que aparece no sonho já está escrito. 

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