Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 14 de novembro de 2010

O Invasor (Brasil, Beto Brant, 2001)

Em O Invasor, terceiro e melhor longa de Beto Brant, é fundamental observar o cartaz de divulgação:


A figura agressiva de Anísio (que revelou Paulo Miklos como ator), o matador de aluguel contratado pela dupla de sócios da construtora para tirar o terceiro sócio da jogada, aparece, no cartaz, visivelmente caracterizada como um alienígena, e isso é fundamental para entender toda a engrenagem que é posta em movimento a partir do momento em que Anísio percebe o trunfo que tem nas mãos - o segredo do crime cometido pelos sócios através dele. Ele tem tudo nas mãos, e vai fazer valer isso. Não sobra nada do Brasil neste filme, e este nada aparece em toda sua expressividade na cena final. O interessante é que nenhum político aparece, mas está lá a empreiteira, ramo que mais se envolveu em corrupção no Brasil milagre e pós-milagre. O angustiado Ivan (uma das melhores atuações de Marco Ricca), dividido entre duas "éticas" (se se pode falar assim), a do sócio Gilberto (Alexandre Borges) e a da própria consciência que o acusa, é um ponto alto do filme, junto com o invasor Anísio. Ivan não consegue escolher, já entra no jogada arrependido, e isso o perde. 

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