"De fato o que mais nos choca não é a sinceridade, às vezes impertinente: é a arranhadela feita com mão de gato, a perfídia embrulhada num sorriso, a faca de dois gumes, alfinetes espalhados numa conversa."
RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. 44.ed. Rio de Janeiro; Record, 2008, p.71.
P.S. O sr. Reinaldo Azevedo (criatura para quem os adjetivos, aqueles que se conseguir imaginar, nunca são suficientes) defende Graciliano Ramos nesta entrevista disponível no youtube, recorrendo para isso ao recurso de taxar Guimarães Rosa de "macaquice vocabular" e ser "metafisicamente primitivo" (sabe-se lá o que isso quer dizer). Metafisicamente sofisticado, o sr. Reinaldo Azedo-Vendo tem lá suas razões: o grupo editorial Record, que edita o jornalista arvorado a crítico, edita também a obra de Gracilano Ramos. Mais uma placa córnea da carapaça do Jabuti 2010, ou quem sabe carapuça. Toda a fala do sr. Reinaldo Azevedo é um exercício lamentável de maledicência, de venenos destilados através de pretensa erudição literária. Um elogio à obra de Graciliano Ramos (e quem ler isso sabe o que estou falando) numa fala eivada de disparates ideológicos soa paradoxal, e é somente assimilável se se admitir que no país dos medalhões machadianos cabe tudo. Mas o próprio Graciliano, em Memórias do cárcere (por que será que ele foi encarcerado?), fala em "Compreensão de que as diferenças não constituem razão para nos afastarmos, nos odiarmos. Certeza de que não estamos certos, aptidão para enxergarmos pedaços de verdade nos absurdos mais claros. Necessidade de compreender, e se isto é impossível, a pura aceitação do pensamento alheio." (p.73) Mais prudente exercitar-se em Graciliano Ramos e Guimarães Rosa.
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