Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quarta-feira, 20 de abril de 2011

o sentido da vida

Voltei da sessão de análise de ontem convicta de que não sei qual o sentido da vida, sequer se ele é alcançável por qualquer meio ou recurso ― mas sei que a minha vida tem um. Toda vez que olho em retrospecto e revejo meu percurso acho-o tão improvável, tão cheio de pequenos milagres, que considero mesmo espantoso que eu possa me conhecer. Me vejo como uma sucessão de eus, um entregando o bastão ao outro mas seguindo um pouco junto. Porque se não sei o que vim fazer neste estranho mundo, isso não quer dizer que minha vida seja gratuita. 

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