Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 19 de abril de 2011

ou talvez não...

Ao contrário do que foi dito no post "suave é a noite", a noite se basta, é suave por si. O seu silêncio promete uma integração com o cosmos pela entrega ao sono, e isso prescinde, independe da presença ou companhia de outro ser. É um equívoco pensar que a companhia humana engrandece a noite: não engrandece nem diminui. A delicada assunção da insignificância ante tudo é antes uma consequência de colocar-se só diante do cosmos, pois a companhia, ao confortar, tira a dimensão dessa insignificância, torna tudo mais inocente. Então a insignificância se dá na solidão, e não tem nada de intolerável. Antes, é bem-vinda. Noite é estar só diante do cosmos.

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