Fotografia tirada no interior do ES, em 19/03/2011, na localidade de Cachoeira Alta, onde nasci. A estrada em foco é o retorno da escola onde estudei até a 3ª série do antigo curso primário. A paisagem, seguindo em frente, atravessada pelo rio, dá acesso a um lugar chamado Grota Funda, onde terminava a faixa de terra que meu pai cultivava, faixa que se estendia do rio, este mesmo que está aí na fotografia, próximo à minha casa, até o outro lado do morro: casa, trabalho e escola: desde cedo tudo muito imbricado, atravessado por um rio, por estradas e caminhozinhos. Há uma estrada quase imperceptível na fotografia, após a ponte, margeada por cercas de arame farpado. Essa estrada conduz à minha antiga casa, e tudo nessa paisagem é muito triste, pois diz de um mundo a que eu não mais pertenço, mas que reconheço como parte inalienável de minha infância, e portanto de mim mesma.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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