Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 23 de abril de 2011

viagem ao interior do ES



Fotografia tirada no interior do ES, em 19/03/2011, na localidade de Cachoeira Alta, onde nasci. A estrada em foco é o retorno da escola onde estudei até a 3ª série do antigo curso primário. A paisagem, seguindo em frente, atravessada pelo rio, dá acesso a um lugar chamado Grota Funda, onde terminava a faixa de terra que meu pai cultivava, faixa que se estendia do rio, este mesmo que está aí na fotografia, próximo à minha casa, até o outro lado do morro: casa, trabalho e escola: desde cedo tudo muito imbricado, atravessado por um rio, por estradas e caminhozinhos. Há uma estrada quase imperceptível na fotografia, após a ponte, margeada por cercas de arame farpado. Essa estrada conduz à minha antiga casa, e tudo nessa paisagem é muito triste, pois diz de um mundo a que eu não mais pertenço, mas que reconheço como parte inalienável de minha infância, e portanto de mim mesma.

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