Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 6 de maio de 2011

Halber Schlaf

Semi-sono

Qual uma roupa sussurra na escuridão,
Na beira do céu as árvores cambaleiam.

Salva-te no coração da noite
Enterra-te no escuro rapidamente
Como em favos. Sê um pequeno ente,
Desce da tua cama.

Algo quer atravessar as pontes,
Raspando um rastro pesado.
De susto, as estrelas estão brancas.

E a lua com suas ancas
Ginga no céu riscado
Com as costas qual dois montes.

Poesia expressionista alemã: uma antologia. Org. e trad. Claudia Cavalcanti. São Paulo: Estação Liberdade, 2000, p.110-111. Edição bilingue ilustrada. 

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