Já tive muitas portas fechadas. Mas o decurso da vida me mostrou que elas abriram outras, e que estas outras esperavam avidamente por se abrir: elas precisavam se abrir. A renovação veio das portas que se fecharam, obrigando-me a abrir outras, as quais me mostraram o quão estreitas e limitadas eram as que se fecharam, a tal ponto que às vezes eu sequer conseguia nomeá-las, mas que depois me deram a medida da minha miopia. Mas por que então insistia em abri-las? Porque há um componente de cegueira em todo movimento que se faz, o passo seguinte (a porta que se abre) depende do passo anterior, não se faz sem ele. Não existe conhecimento gratuito, portas não se abrem pela simples força da vontade ou da imaginação. Eu quis abrir uma porta, ela era estúpida, fechou-se para mim. Mas neste movimento eu não era estúpida, e outras portas estavam se abrindo sem que eu percebesse de imediato, mas de todo modo eram estas portas as que contavam, e que se abriram, como se as coisas mais fortuitas fossem de fato as decisivas.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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