Quase acordando, o último lampejo da noite vem-me na figura de minha mãe. Estou sonhando coisas traiçoeiras, imagens da novela das oito a que não assisto, exceto pelas chamadas das revistas das bancas de jornal, todos traindo todos. Minha mãe entra no quarto do meu sonho e diz que vai fechar a janela, porque está chovendo. Minha mãe estava no quarto momentos antes de eu acordar, na verdade ela veio me acordar. Olho o relógio e são dez horas da manhã. Mas também pode ser assim: numa noite intensa de sonhos que me escaparam quase complemente, estou sonhando com imagens da novela das oito, Marina (Mariana?), Pedro, Léo, ninguém é de ninguém, todos se enganam. Percebo que minha mãe entra no quarto e diz que vai fechar a janela, porque está chovendo. Então acordo, ainda dentro do sonho. Efetivamente acordo e percebo que a janela está fechada e sequer está chovendo, mas minha mãe não está ali. Olho no relógio e já são dez horas da manhã. Finalmente: estou sonhando com personagens da novela das oito, a pior que pode existir, tal seu grau de vilania. As personagens me despertam repúdio, aversão. Então vou aos poucos despertando do sonho com minha mãe entrando no quarto e falando que vai fechar a janela, porque está chovendo. Então acordo, mas ainda estou no sonho e quero continuar dormindo. Mas a entrada da minha mãe no quarto foi ruidosa o suficiente para me acordar de vez. Olho no relógio e me dou conta de muitas coisas. Em tempo: minha mãe não mora comigo, mas se encontra no Rio de Janeiro tratando da saúde, na casa de minha irmã. Hoje à noite virá aqui. Ou voltará.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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