Um vento fortíssimo sopra lá fora, querendo levar tudo. Mas o dia foi tão bom, tão bom, que o vento parece antes estar trazendo ar novo, renovando o ar parado dos últimos tempos. Os telefonemas de hoje, as decisões, o almoço com o amigo que há tempos não via, seu presente de aniversário, o presente para a sobrinha, outro para mim, a coragem de chamar as coisas, certas coisas, pelo devido nome, a discussão ao telefone com a atendente de telemarketing de uma imprestável prestadora de serviços, a ameaça de levar ao Procon que não vai se concretizar, porque no Rio de Janeiro é muito enrolado, mais ainda assim um bate-boca ao telefone com uma desconhecida que finge não entender as reclamações (no plural) do cliente, e fica repetindo a mesma coisa (qual boneca programada): no fim das contas (as pagas e aquelas a pagar), uma boa forma de colocar alguns demônios para fora. E então o bem-estar do vento forte. A vida em movimento, com lobos calados de repente postos a uivar.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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