MIRAGEM
Não te impressione a carne jovem,
Precoce e tímido devasso,
Vê que esses corpos que se movem
Como a implorar que outros os provem
Já a muitos foram só cansaço.
Por tais irreais pernas redondas,
Lunares seios arrogantes,
Coxas de bronze, ancas em ondas,
Tragaram seus findos amantes
Suas quase almas muito hediondas.
E hoje há só pó. Da gruta fria
À enorme rua, elas se espalham,
As mesmas formas, todo dia,
Banais, iguais, e em demasia
Para que alguma coisa valham.
BUENO, Alexei. Lucernário. Poesia reunida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003, p.248.
Nenhum comentário:
Postar um comentário