Sonhei que perdi (ou esquecia) o prazo de entregar os trabalhos de três disciplinas do doutorado, e eu ficava sem entender como, uma vez que já de posse do título deixara de cumprir obrigações bem anteriores à sua aquisição. Falava com meu orientador, e o que ele dizia não me orientava, e voltava para o impasse de, em um fim de semana, providenciar a escrita dos trabalhos de cujo prazo de entrega eu me distraíra, confundira as datas, mas já era 28 de fevereiro, em primeiro de março o novo semestre começaria... e a coisa continuava naquela circularidade típica de sonhos. Acordei aliviada de perceber o impossível da situação. Mas isso me levou para outra recorrência acadêmica, no plano dos sonhos. Durante certo tempo sonhei que abandonava uma disciplina na graduação, das optativas ― dentre um repertório em que o estudante é obrigado a escolher um número x de disciplinas, daí que eram chamadas de optatórias, afinal se era obrigado a optar ― sonhei que abandonava e não conseguia retomar, e aquilo ficava girando sobre si mesmo no sonho, como se eu tivesse que voltar ao passado para reparar uma obrigação não cumprida. É fato que me deixei reprovar uma vez na universidade, numa optativa que não me prendia muito o interesse, mas depois me matriculei novamente e levei até o fim. Se minha formação acadêmica está me mandando recados através desses sonhos eu não sei, mas uma coisa é certa: eu sempre gostei de estudar, e não tenho escrito nada academicamente nos últimos tempos: está tudo parado, pelo menos naquela exterioridade do moinho da vida. Mas os sonhos desta noite não terminavam muito bem, a sugerir que há outros moinhos que também não estão recebendo ventos favoráveis, aliás vento nenhum, porque tudo ia em direção a uma incômoda e áspera paralisia. Porque o vento sopra mesmo em todas as direções, e talvez o recado desta noite seja este, quais os ventos que estão cá movendo os moinhos dos meus sonhos.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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