Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quarta-feira, 27 de julho de 2011

Murilo Mendes: aforismos e fragmentos

49
Reformando Descartes:
A coisa mais bem repartida do mundo é a burrice.

50
A angústia, a morbidez e a sexualidade são poderosos fermentos da poesia; não são seu fim.

120
A poesia é a teoria dos homens e a prática dos deuses.

152
O homem pode ser enganado também pela sua consciência.

286
Viver a poesia é muito mais necessário e importante do que escrevê-la.

463
A leitura deve-nos ler, tanto quanto ser lida.

567
Sempre, em todos os tempos, a poesia corrigiu a crítica.

645
A inteligência torna-se fecunda quando começa a reconhecer seus limites.

MENDES, Murilo. O discípulo de Emaús. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994.

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