CUIDEI DISTANCIAR-ME
Cuidei distanciar-me
Do silvo da mentira desgastada
E do incessante grito dos antigos terrores
Que crescem mais terríveis quando o dia
Tangencia a colina e adentra o mar profundo;
Cuidei distanciar-me
Das mesmas e enfadonhas saudações
Porque há fantasmas no ar
E ecos fantasmagóricos no papel
E um ribombo de apelos e de notas.
Cuidei distanciar-me, mas tenho medo;
Alguma vida, ainda louçã, poderia explodir
Da velha mentira que arde sobre o solo
E, crepitando no ar, deixar-me quase cego.
Nem pelo medo antigo da noite,
O chapéu que se separa dos cabelos
Ou os lábios crispados junto ao fone
Me farão cair ante a pluma da morte.
Não gostaria de morrer por nenhum deles,
Metade convenção, metade hipocrisia.
Dylan Thomas. Poemas reunidos. Trad. Ivan Junqueira. 2.ed. rev. Rio de Janeiro: José Olympio, p.118-119.
Nenhum comentário:
Postar um comentário