Ao dormir, o expressivo verso de Dylan Thomas, tentativa de evocação da leitura feita um pouco antes: "Tornei-me amigo do sono que me beijava o cérebro":
Tornei-me amigo do sono que me beijava o cérebro,
Deixando rolar a lágrima do tempo; o olho de quem dormia,
Abrindo-se na luz, voltou-se para mim qual uma lua.
Assim, erguendo-me nos calcanhares, voei ao longo de meu ser
E despenquei sonhando a contemplar o céu lá no alto.
O primeiro verso é um convite à noite, ao sonho, a essa outra vida que se vive dormindo, no soño. Evoquei o verso na lembrança que adormecia, e sonhei o que o poema prometia. Despenquei de um sonho urdido pelo dia. Sonhos traduzem o dia em águas turvas, ainda que o traje das personagens seja de um branco alvíssimo. Sonhos são também antecipações, e por isso o sono que beija o cérebro é amigo.
Dylan Thomas. Poemas reunidos. Trad. Ivan Junqueira. 2.ed. rev. Rio de Janeiro: José Olympio, p.89.
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