A verdade da morte não nos serve
Como não serve um manto
De rasgos sorridente
No carrancudo inverno.
Assim também dos deuses a verdade
De eles serem mentira,
Caso o sejam, não vale
O preço de a encontrarmos.
Antes, no nosso sonho, tão maiores
Que o Estige e que Caronte,
Vivamos, não no que há,
Mas no que haver devera.
E, cumpra-se ela ou não, vestindo a túnica
De uma talvez mentira
Mas áurea, ao chão joguemos
Os trapos da verdade.
Para rijos cruzarmos o árduo tempo,
Quais deuses, quais os sábios
Deles iguais, que o reles
Não sabem conhecer.
BUENO, Alexei. Poemas gregos. Poesia reunida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003, p.193-194.
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