A SOLITÁRIA NATA
Eu ouvia da sombra, numa cadeira de praia,
A gama de ruídos que por meu jardim se espraia
E julgava de toda conveniência se isentasse
Do dom da palavra tanto os vegetais como as aves.
Um tordo sem nome de batismo repetia
O Hino Tordo, que era tudo quanto conhecia.
Por terceiro esperavam as flores roçagantes
Para dizer-lhes, sendo o caso, quais os pares de amantes.
Não seria, nenhum deles, capaz de mentir;
Tampouco havia ali quem sentisse a morte vir-
Lhe ou que, com ritmo ou rima, pudesse dar tento
Da sua responsabilidade pelo tempo.
Ficasse a linguagem para a solitária nata
Dos que contam os dias e esperam cartas.
Ao rir e ao chorar, nós também fazemos ruídos.
Palavras são só para os que estão comprometidos.
THEIR LONELY BETTERS
As i listened from a beach-chair in the shade
To all the noises that may garden made,
I seemed to me only proper that words
Should be withheld from vegetables and birds.
A robin with with no Christian name ran through
The Robin-Anthem which was all it knew,
And rustling flowers for some third party waited
To say which pairs, if any, should get mated.
Not one of them was capable of lying,
There was not one which knew that it was dying
Or could have with a rhythm or a rhyme
Assumed responsibility for time.
Let them leave language to their lonely betters
Who count some days and long for certain letters;
We, too, make noises when we laugh or weep:
Words are for those with promises to keep.
W. H. Auden. Poemas. Trad. José Paulo Paes. 2.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1986, p.116-117.
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