Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

oásis

No silêncio da tarde, me dirijo à cozinha para tomar água. É quando percebo o que tenho. Sob a transparência do filtro comum, azulado, adquirido com zelo, a água repousa em sua placidez. Aberta a torneira, no copo vibra a água, fazendo valer seu valor de líquido ― líquido, conforme aprendi na escola, insípido, inodoro e incolor. Nenhum dos três adjetivos, essencialmente de negação, faz jus à água. A água sabe de longe a oásis, traz o frescor das coisas que se conquistam com meditada paciência ― a água que se toma para saciar a sede própria do que é vivo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário