CASSINO
Não gosto de prazer premeditado.
O mundo, às vezes, é um borrão escuro.
Eu, meio bêbado, estou condenado
A ver as cores de um viver obscuro.
O vento brinca e às nuvens descabela.
A âncora cai no fundo do oceano.
E inanimada, como numa tela,
A alma pende sobre o abismo insano.
Mas amo estar nas dunas do cassino,
A larga vista da janela baça,
Um fio de luz na toalha que desbota,
À minha volta o mar verde-citrino,
Vinho, como uma rosa, em minha taça
E eu a seguir o voo da gaivota.
CAMPOS, Augusto de. Poesia da recusa. São Paulo: Perspectiva, 2006, p.119.
Nenhum comentário:
Postar um comentário