“As letras, vejam bem. Que formulação feliz! Letras, reunidas por fios invisíveis tomados por imponderáveis correntes magnéticas. E toda essa azáfama imposta a um cérebro que deveria funcionar impecavelmente, e trabalhar sem ter trabalho. É uma pessoa, vindo na sua direção, ou só uma mente? Uma mente distribuída por livros, páginas, frases repletas de vírgulas, ponto-e-vírgulas, travessões e asteriscos. Um autor conquista um prêmio ou uma cadeira na Academia por seus esforços, ao outro só cabe um osso roído pelos vermes. Os nomes de alguns são dados a ruas e bulevares, os de outros a prisões e asilos. E mesmo depois que todas essas ‘criações’ tiverem sido finalmente lidas e digeridas, os homens ainda estarão atacando uns aos outros. Nenhum escritor, nem mesmo o maior deles, jamais foi capaz de contornar esse fato duro e frio.”
MILLER, Henry. Nexus. Trad. Sergio Flaskman. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p.310.
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