Hoje escolhi um trajeto alternativo para voltar para casa, em parte por falta de disposição de me dirigir até o Centro, em parte porque me atraía a ideia de passar pela orla. Levei três horas e meia para chegar em casa. Um simples Natal traz o caos para o trânsito da cidade. As autoridades estão assegurando que vão resolver os problemas de infra-estrutura até os dois eventos esportivos que a cidade vai sediar. Isso é bastante questionável. As ruas e avenidas desta cidade ainda vivem no tempo da Bossa Nova, para que a garota de Ipanema possa passar devagar. Um enorme congestionamento se forma na orla para que os veículos possam entrar na Avenida Niemayer. São cinco pistas de dois afluxos que precisam virar uma pista única, numa espécie de funil sem sinalização. Os veículos vão se amontoando. Depois disso, novas retenções. Na altura do bairro classe média alta que vem depois do elevado do Joá, ouvi o motorista dizer que não entendia como as pessoas conseguiam viver lá, pois estão presas pelo trânsito. Palavras dele: prisão domiciliar. Estava anestesiada pela lentidão, levei alguns segundos para entender. Apesar de tudo, como a geografia desta cidade é bela! Não as praias lotadas, um tanto largadas, com um jeitão de improviso. A geografia mesmo, as formas da natureza em contraste com algumas soluções bem-vindas de urbanização. Algumas.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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