DISSE A SOMBRA...
Disse a sombra ao sol: “Eu passo”
E ele ― rubicundo de mormaço ―
responde: “Mais devagar também caminho
enquanto alongas tuas pernas desmedidas.”
Ao meio-dia diz a sombra: “Em ti dormito,
oculta em teu novelo de verdades
tão claras, que o olhar dos homens velas.”
“Em mim dormitas?” diz o sol zangado.
“E eu pensando ser a luz tamanha
que sombra alguma em mim repousaria
antes da negra noite apagar meu dia.”
Dora Ferreira da Silva. Poesia reunida. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999, p.334.
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