Não sei se os astros mandam neste mundo,
Nem se as cartas ―
As de jogar ou as de Tarot ―
Podem revelar qualquer coisa.
Não sei se deitando dados
Se chega a qualquer conclusão.
Mas também não sei
Se vivendo como o comum dos homens
Se atinge qualquer coisa.
Sim, não sei
Se hei-de acreditar neste sol de todos os dias,
Cuja autenticidade ninguém me garante,
Ou se não será melhor, por melhor ou por mais cómodo,
Acreditar em qualquer outro sol ―
Que ilumine até de noite, ―
Qualquer profundidade luminosa das coisas
De que não percebo nada...
Por enquanto...
(Vamos devagar)
Por enquanto
Tenho o corrimão da escada absolutamente seguro,
Seguro com a mão ―
O corrimão que não me pertence
E apoiado ao qual ascendo...
Sim... Ascendo...
Ascendo até isto:
Não sei se os astros mandam neste mundo...
PESSOA, Fernando. Poesia completa de Álvaro de Campos. Ed. Teresa Rita Lopes. São Paulo: Companhia de Bolso, 2007, p.484-485.
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