Assisti ao filme que faltava da trilogia das cores,
"A Igualdade é Branca". As fronteiras separando os diferentes, a
própria língua como uma barreira. Gostei muito de "A Fraternidade é
Vermelha", achei até mais forte, mas este, voltado para a igualdade (pelo
menos na tradução do título), é igualmente espinhoso, ou pelo menos
incômodo. O cinema tem alguma coisa de sonho: quando consigo me lembrar do
que sonhei, enquanto me lembro tudo parece fazer sentido; depois aquilo foge,
vai embora, às vezes sem deixar qualquer vestígio consciente. Até pela
simbologia das cores, essa trilogia talvez se aproxime da região não discursiva
dos sonhos: o que fica dessas cores? O branco abre espaços (em especial quando
o protagonista volta para sua terra), mas a última cena se dá dentro de uma
prisão...
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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