Paranoid Park traz, a bordo do vazio e da
incomunicabilidade das experiências que as personagens adolescentes vivenciam, uma aposta
inusitada: a escrita como elemento de catarse. No caso, praticamente um
simulacro da escrita, haja vista que a carta (ou cartas) não será enviada à
remetente, que no entanto é decisiva para que aquela escrita aconteça. Metonimicamente,
as cartas deslizam para o fogo, que aparece não como destruição, mas como
possibilidade de transformação, que a escrita ensejou.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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