Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 23 de novembro de 2010

Emily Dickinson: duas traduções

This quiet Dust was Gentleman and Ladies
And Lads and Girls ―
Was laughter and ability and Sighing
And Frocks and Curls.

This Passive Place a Summer’s nimble mansion
Where Bloom and Bees
Exist an Oriental Circuit
Then cease, like these ―


Este Pó já foi Damas e Senhores
E Rapazes e Moças ―
Foi risadas e prendas e suspiros
E Vestidos e Tranças.

Nesta mansão as Flores e as Abelhas
Que no Verão voltaram
Um Ciclo Oriental, como estas,
Viveram ― e se foram ―

DICKINSON, Emily. Alguns poemas. Trad. José Lira. São Paulo: Iluminuras, 2008, p.62-63.

Cemitério

Este pó foram damas, cavalheiros,
Rapazes e meninas;
Foi riso, foi espírito e suspiro,
Vestidos, tranças finas.

Este lugar foram jardins que abelhas
E flores alegraram.
Findo o verão, findava o seu destino...
E como estes, passaram.

BANDEIRA, Manuel. Alguns poemas traduzidos. Rio de Janeiro: José Olympio, 2007, p.78.

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