Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 5 de abril de 2011

Iwan Goll: Karawane der Sehnsucht

Caravana do Desejo

A longa caravana de nosso desejo
Nunca encontra o oásis das sombras e ninfas!
Amor nos chamusca, pássaros da dor
Devoram mais e mais nosso coração.
Ah, conhecemos águas e ventos frios:
Elísio poderia estar em toda parte!
Mas caminhamos, caminhamos sempre no desejo!
Em algum lugar salta um homem da janela
Atrás de uma estrela, e morre,
Alguém procura na galeria
Seu sonho de cera e o ama ―
Mas um fogo queima em nós no sequioso coração,
Ah, corressem Nilo e Niágara
Através de nós, então gritaríamos ainda mais sedentos!

Poesia expressionista alemã: uma antologia. Org. e trad. Claudia Cavalcanti. São Paulo: Estação Liberdade, 2000, p.80-81. Edição bilingue ilustrada.

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