Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 8 de abril de 2011

um dia lívido

Em virtude do que se passou ontem no Rio, fiquei constrangida de falar sobre uma experiência, no final da tarde, no centro da cidade. É que meu dia ontem teve coisas boas, apesar das ameaças de tempestade que pairavam pela manhã sobre ele. Um dia à deriva entre situações cujo discernimento me faltava, mas que reclamavam decisões. Não, não é escolha. É outra coisa que acontece. É um tateio, uma busca de elementos que componham uma referência para pensar, para se situar. A sequência de tudo mostra que a intuição é tão forte quanto aquilo que pode ser dado pela razão. Então, depois de uma forte angústia acerca de situações das quais não tenho como me esquivar, no final da tarde, como que por encanto, aquelas nuvens pesadas de ameaça de tempestade haviam se dispersado, ou pelo menos migrado para outro céu, nem que seja outro céu da minha paisagem. Então respirei os ares bons do centro da cidade. 

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