Daqui a um mês, pouco mais, pouco menos, me mudo de casa aqui no Rio de Janeiro. Alguma coisa em mim já se enraizou nesta cidade desorganizada. Vencido o primeiro ano de rejeição, cumprido o compromisso com a finalização da tese, posso enfim mudar de casa, sabendo o suficiente da cidade para escolher um lugar. Por que mudar? Porque é necessário. Dois anos numa casa que seria apenas uma solução a curto prazo, uma casa que habitei mas não sei se me habitou. Por que então tanto tempo? Porque não é simples ou fácil. Com a escrita de uma tese entre as coisas a transportar, fica complicado pensar em mudança. Então fui ficando. Até que, por acaso, dentro da inquietude que não desiste de procurar, um lugar apareceu. Um lugar que me agradou, não totalmente, é certo, mas que vou conseguir habitar, conforme me pareceu. Então é assim: finalmente estou podendo escolher um lugar para morar nesta cidade que não escolhi, para a qual me vi empurrada, mas que agora, vez ou outra, flagro como minha. É algo muito de relance: olho uma paisagem pela janela do ônibus e constato: moro aqui. Nestes dois anos, percorri intensamente a cidade, e percebi por exemplo que o que mais gosto nela não está no cartão postal ― com exceção do mar.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário