Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 5 de abril de 2011

espiritualidade

Pode-se dar à palavra "espiritualidade" diferentes contornos. Saindo do plano dos signos, seria análogo dizer que a espiritualidade é experenciada, quando o é, de formas distintas, que no âmbito da experiência ela adquire contornos e nuances relativos a quem sente em si um certo incômodo, ou deslocamento, que só pode ser traduzido pela palavra "espiritualidade". Não é angústia, não é tristeza nem alegria. É um leve desconforto, um desacordo de si com a substância das coisas, talvez sintoma de um acordo mais fundo. Isso é tão difícil de expressar quanto a singularidade de uma vida. Mas quando essa presença é sentida em si, não pode ser ignorada.

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