TRANSCENDÊNCIA
Os pássaros que morrem,
As flores que fenecem,
Os córregos que correm
Ao mar onde adormecem,
Que calma de crepúsculo
À quieta noite os leva,
Sem que um soluço, um músculo
Se exalte contra a treva!...
Como as folhas que aragem,
Como um trapo, retira
De ombros onde a folhagem
Nascente já se estira,
Tudo se vai ritmado
Num mesmo canto antigo,
Enquanto em nós, torvado
De um íntimo perigo,
O olhar se atira além,
Sem tal terrena calma
Que o corpo nos contém
Mas nunca a nossa alma.
BUENO, Alexei. Lucernário. Poesia reunida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003, p.281.
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