Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quarta-feira, 1 de junho de 2011

uma sensação única

Li certa feita Raduan Nassar dizendo que um dos seus nirvanas era o momento de dormir, ir escorregando devargazinho para o sono. Pois eu, por mais louco ou atrapalhado ou cansativo ou medonho que tenha sido o dia, quando me deito para dormir, sinto-me pacificada com a minha existência. Isso só acontece no momento de dormir, e se já não tivesse se tornado clichê falar no sagrado sono dos justos, eu diria que é algo dessa natureza. Que seja então o momento sagrado em que algum anjo se aproxima de mim.

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