Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 31 de julho de 2011

Dylan Thomas: vision and prayer (fragmento)

Forever falling night is a known
Star and country to the legion
Of sleepers whose tongue I toll
To mourn his deluging
Light through sea and soil
And we have come
To know all
Places
Ways
Mazes
Passages
Quarters and graves
Of the endless fall.
Now common lazarus
Of the charting sleepers prays
Never to awake and arise
For the country is the heart’s size


A noite que vai caindo para sempre é uma estrela
Conhecida e um país diante de uma legião
De adormecidos cuja língua faço ecoar
Para vestir de luto sua diluviana
Luz através do mar e do solo
E eis que chegamos
A conhecer todos
Os lugares
Vias
Labirintos
Desfiladeiros
Quarteirões e tumbas
Da queda que não tem fim.
E agora Lázaro comum dos
Adormecidos sobre o mapa roga
Para ele jamais acordem e se ergam
Pois o país da morte é a medida do coração

Dylan Thomas. Poemas reunidos. Trad. Ivan Junqueira. 2.ed. rev. Rio de Janeiro: José Olympio, p.190.


Para sempre caindo a noite é uma estrela
Conhecida e um país para a legião
Dos dormientes cuja língua eu tanjo
Para prantear sua diluviosa
Luz através de mar e solo
E assim viemos
A conhecer
Lugares
Ruas
Labirintos
E passagens
Bairros e túmulos
Da queda interminável.
Agora lázaro comum
Das orações que armam os dormientes
Para nunca acordar e levantar-se
Pois o país da morte é igual a um coração

CAMPOS, Augusto. Poesia da recusa. São Paulo: Perspectiva, 2006, p.352-353. 

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