A última vibração da noite, uma frase que condensava vida e música ― a vida dizendo-me uma coisa que me é tão cara que sequer tenho coragem de expressar aqui, ou mesmo em outro contexto, por medo de perder, e também porque algumas coisas pertencem à pessoa e mais ninguém, são seu recesso ― foi interrompida pelo despertador. Mas entendi que o despertador interrompia a torrente das imagens e palavras naquele ponto para que eu retivesse-o, aquele momento, desperte para o que este sonho está dizendo, e o que estava sendo dito era muito bonito, precioso ao extremo, vida que se renova, e isso confluía com a música, como a dizer: uma sinfonia bonita está tocando, ouça-a.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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