Procissão dos homens
Nossa Senhora da Penha,
sou um homem casado,
pai de três filhos,
todos bem criados.
O mais velho é juiz,
o do meio, delegado.
O caçula é o padre
que nos perdoa
o crime organizado.
Nossa Senhora da Penha,
que tortura eu sofria
vendo meus filhos crescerem
em porte, beleza e graça;
a casa cheia de amigos
bebendo de nossa taça!
Mas um dia, uma onda
altíssima, implacável,
levou meu filho mais velho.
O do meio foi queima de arquivo,
o padre foi visto boiando
de bruços num manguezal.
Nossa Senhora da Penha,
Nossa Senhora da Terceira Ponte,
Nossa Senhora da Terceira Margem,
minha aposentadoria não dá pra nada.
Nossa Senhora da Penha,
meus filhos estão sorrindo,
braços abertos para mim,
lá embaixo.
In: Instantâneo: poesia e prosa: fermento literário. Vitória: Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo, 2005, p.220. [Trata-se de uma coletânea de autores capixabas]
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