Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Emily Dickinson

Na Primavera um quê de Insensatez
Até ao Rei lhe fará bem, talvez,
Mas Deus ao Bobo dê razão ―
Que acha que esse cenário excepcional ―
Esse Ensaio de Verde universal ―
É sua própria criação.

A little Madness in the Spring
Is wholesome even for the King,
But God be with the Clown ―
Who ponders this tremendous scene ―
This whole Experiment of Green ―
As if it were his own.

DICKINSON, Emily. Alguns poemas. Trad. José Lira. São Paulo: Iluminuras, 2008, p.270-271.

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