Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 17 de outubro de 2010

a marcha das utopias

Li, há cerca de três ou quatro anos, texto de uma publicação séria falando que o mundo caminhava para uma onda, ou tendência, de conservadorismo (leia-se retrocesso político e social, e progresso econômico apenas para um grupo ultra restrito de pessoas). Não me lembro se o texto se restringia à porção ocidental do mundo, mas o fato é que o Brasil está rezando direitinho pela cartilha do neoconservadorismo. Ao observarem-se as escolhas políticas de certas lideranças que no passado militaram contra o regime militar, é inevitável a pergunta: o que é isso, companheiro? Talvez, agora, o grande companheiro seja mesmo o capital, que engoliu enfim a marcha das utopias, quando assistimos a verdadeiros crimes de lesa-pátria. A propósito, um poema de José Paulo Paes:

a marcha das utopias

não era esta a independência que eu sonhava
não era esta a república que eu sonhava
não era este o socialismo que eu sonhava
não era este o apocalipse que eu sonhava

Os melhores poemas de José Paulo Paes.  3. ed.  São Paulo: Global, 2000, p.158. 

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