Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Manuel Bandeira: uma tradução de Joaquim Manuel de Macedo

“A outra ‘tradução’ era do ‘Adeus de Teresa’ [trata-se da recriação de um poema de Castro Alves]. Num comentário, de humour muito sofisticado, dava o meu poema ‘Teresa’ como ‘tradução tão afastada do original, que a espíritos menos avisados pareceria criação’. Na semana seguinte voltei ‘traduzindo’ estes versos do autor da Moreninha:

Mulher, irmã, escuta-me: não ames.
Quando a teus pés um homem terno e curvo
Jurar amor, chorar pranto de sangue,
Não creias, não, mulher: ele te engana!
As lágrimas são galas de mentira
E o juramento manto da perfídia.

Bem, dessa vez eu queria mesmo brincar falando cafajeste, e a coisa foi apresentada como ‘tradução pra caçanje’:

Teresa, se algum sujeito bancar o sentimental em cima de você
E te jurar uma paixão do tamanho de um bonde
Se ele chorar
Se ele se ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredita não Teresa
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA

Piadas... diz Bandeira, piadas.

BANDEIRA, Manuel. Itinerário de Pasárgada. [1954] Poesia completa e prosa. 5. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2009, p.596-597.

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