Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Viajo Porque Preciso...

No filme Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo, o protagonista, o geólogo José Renato, faz um ir e vir constante entre as fissuras do solo que estuda e as próprias. Um interlocutor atento ponderou: não é metáfora. O sonho que o geólogo relata, vendo-se submetido a uma cirurgia do cérebro em que o médico vai retirando, aos poucos, pedaços do corpo da mulher amada, é sintomático de que a fissura é dele, é ele, projetada nas imagens exteriores. Insuportável. De tal forma que faz ele desejar largar tudo e se perder num labirinto, num labirinto sem saída. Não à toa nunca vemos o narrador-protagonista, apenas as imagens projetadas por sua mente enquanto ele narra o percurso de sua viagem sem volta. O filme tem uma densidade que faz suspeitar muita coisa.

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